quinta-feira, 6 de março de 2014

Um pouco de Stella Adler - ¨Atuar é um trabalho obstinado, necessitando de atenção constante e de planejamento rigoroso¨


Trechos selecionados do livro: Técnica da Representação Teatral (Stella Adler) 

Acredito que seja importante entendermos e compreendermos um pouco sobre a mente incansável de cada pensador da arte dramática.

 - O Ator e a Profissão

“Queria  que  o  palco  fosse  uma  corda  esticada  onde  nenhum  incompetente   ousasse caminhar.” (Goethe)

 Goethe  está  falando,  é  claro,  a  partir  do  ponto  de  vista  de  um  autor.  Este  é  o  enorme  e  frustrante  desafio  do  ator  ao  representar  peças  escritas  por  Goethe  e   outros grandes dramaturgos. (...)
 

O  ator  moderno  deve  ter  virtudes  que  o  dramaturgo,  talvez,  não  tenha,  e  uma  delas é o instinto que o estimula a atuar. Este instinto é mais forte do que nós sabemos
ou  podemos  analisar.  O  ser  total  de  um  ator  –  mente,  espírito,  alma  e  aquela
incontrolável  essência  que  é  o  talento  deve  estar  dedicado  à  sua  arte.  Nesta  vida,
muitas pessoas são obrigadas a usar apenas uma faceta de si mesmas. Todos os outros  criam  uma  inquietação  incomparável  na  alma  do  ator,  e  é  isto  o  que  lhe  motiva  o talento ser revelado.
 
Há  mais  de  um  século  têm  havido  muitos  estilos  em  literatura:  realismo,  expressionismo,  simbolismo  e  assim  por  diante.  Um  autor  tem  muitos  anos  para
explorar  tais  estilos,  passados  e  presentes.  O  jovem  ator  deve  fazer  todas  essas
mudanças de estilo virem à tona no presente. Para superar os obstáculos, o jovem ator
de hoje pode contar com uma escola de atuação, e este talvez seja o primeiro passo que
o conduza à profissão teatral.
 
Frequentemente,  o  ator  inicia  sua  carreira  sem  modelo  algum.  Em  outros períodos do  teatro,  o  principiante  era  influenciado  por  atores  de  grande  talento.  Ele
entrava  no  palco  trazendo  um  germe  e,  desse  modo,  lentamente  aprendia  seu ofício através  de  peritos,  como  Salvini  e  Kean.  Em  tempos  mais  recentes,  as  escolas  de interpretação  eram  muitas  vezes  vinculadas  a  teatros,  e  o  ator  acabava  por  tornar-se parte  desse  teatro.  Primeiro  tornavam-se  atores   e  depois  diretores  e  também professores. O Teatro de Arte de Moscou é um exemplo disso. (...)

 (...) O ator de hoje precisa ser ajudado. Aqui, a influência do professor é muito específica.  Ele  orienta  o  ator  quando  este  começa  a  trabalhar  com  ideias.  O
esclarecimento  do  texto,  o  entendimento  do  personagem,  do  estilo,  da  linguagem,  do ritmo da peça – estimula o ator a experimentar a vida e o estilo do dramaturgo.
 
Atingir esse despertar incentiva o ator a perceber que sua alma, seu espírito e seu intelecto têm importância. Ser apenas um rapaz ou uma moça comum não basta. Não é suficiente  para  o  ator  ser  o  que  somos  hoje,  e,  mais  importante,  isso  não  interessa  à plateia. (...)

 (...)  A  imaginação  do  ator  agora  absorve  a  vida  do  personagem.  Ele  adquire  a 
capacidade  de  lidar  especificamente  com  a  peça  e  também  com  a  moral,  a  ética,  a educação, a vida familiar, a vida sexual, a crença religiosa e a profissão do personagem.
Essa aproximação dá maior domínio ao ator e lhe permite segurança interior, a união de
seu  espírito  com  sua  profundidade  interna  é  o  caminho  para  essa  independência  da profissão. Seu conhecimento dos seres humanos, herdado ou instintivo, sempre virá em
seu auxílio. (...)
 

- O impulso de representar

 (...) Não será extravagante considerar que o ator, porque ele é o intérprete, seja o 
elemento  mais  importante no  teatro.  E  dessa  forma  talvez  não  seja  surpreendente  que uma  extensa  variedade  de  pessoas  das  mais  diferentes  condições,  cujas  
qualificações educacionais  e  conhecimentos  tendem  a  variar  amplamente,  escolha  a  arte  de
representar como uma profissão. (...) Ao mesmo tempo que esse desejo incontrolável de
representar  os  convencem  de  que  podem  atuar  e  que  irão  se  tornar  atores,  é  

provável que tenham problemas ou bloqueios que tornem difícil, senão impossível, alcançar suas
metas.  Timidez,  insegurança  e  tensão  são  problemas  comuns,  assim  como  falta  

de disciplina,  desconhecimento  de  tradição  e  método  e  nenhuma  consciência  de  
controle corporal. Como almas perdidas, podem 
sentir se soltos no espaço, sem rumo definido, mas apesar disso a ambição os lança ao palco.
 

Assim, vamos começar do início. Tentarei tornar tudo tão claro quanto possível. 

Deixem-me começar dizendo que o sistema de Constantin Stanislavski é uma técnica de
atuação e técnicas sempre existiram. Porém a dele é a mais moderna, embora tenha sido
descoberta e formulada há quase cem anos. (...)

 (...)  Atuar  é  um  trabalho  obstinado,  necessitando  de  atenção  constante  e  de planejamento  rigoroso.  Não  é  algo  para  gênios.  É  para  pessoas  que  trabalham  passo  a
passo.  Embora  não  haja  propriamente  uma  receita  para  atuar,  deve-se  seguir  uma
sequência de princípios. (...)
 
(...)  Com  muito  esforço,  o  ator  pode  progredir  e  transformar- se  gradualmente, partindo da insensibilidade e do vazio para a maturidade estética
dentro de um período de  tempo  relativamente  curto.  O  mais  importante  é  que,  com  treinamento  
apropriado, ele  pode  estender  imensuravelmente  seus  talentos,  criando  uma  nova  penetração  e alcance das funções cênicas.
 

No palco, espera-se que o ator faça mágica. Ele precisa criar um personagem que 
cative as plateias noite após noite. (...)

 (...)  O  primeiro  conceito  que  um  ator  precisa  dominar  é  bem  simples:  atuar 

significa  a  eliminação  de  barreiras  humanas.  Ele  deve  derrubar  as  paredes  
entre  si mesmo e os outros atores. Isso lhe dará uma sensação de liberdade no palco.
 

O  ator  dá  provas  de  uma  generosidade  especial  ao  sugerir  à  plateia:  “Vou  dar-
lhes ideias.”,  “Vou  dar-lhes  prazer.”,  “Vou  dançar  para  vocês.”,  “Vou  expor-lhes  as dores do meu coração.”
 

Tudo isso é uma forma de talento artístico, de dar de si. É um caso de amor com 
a plateia. Porém, para levar adiante esse caso de amor, deve-se começar a pensar e atuar
de novas maneiras.
 

Há  uma  diferença  entre  verdade  da  vida  e  a  verdade  do  teatro.  E  é  preciso 
aprender  a  não confundi-las.  Devemos  aprender  como  nos  expressar  com  intensidade
quando expressamos ideias épicas do autor. (...)

- As metas do ator

 (...)  O  medo  de  crítica,  a  loucura  pelo  dinheiro,  o  pavor  do  palco,  a  timidez 

extraordinária, o sonho de estrelato e os personagens clichês são imposições feitas pelo
público. Para ser um artista, o ator deve superar esses obstáculos. (...)
 


(...)  Uma  das  primeiras  tarefas  do  ator  é  se  libertar  das  opiniões  externas. 
Somente  quando  se  respeita  alguém  mais  do  que  qualquer  pessoa  no  mundo  é  
que  se pode aceitar e incorporar suas opiniões ou críticas. Do contrário, ignorem-se as noções de terceiros sobre o que é certo para nós. Ninguém pode nos dizer se somos jovens ou velhos,  bonitos  ou  bemsucedido.  Esses  são  conceitos  que  devemos  criar  para  nós
mesmos. Muitas opiniões sobre teatro e  arte são  meras formas de  falar da vida alheia.
(...)

 (...) OBJETIVO: Quais são sua meta e pleno de carreira? 


―  O  que  vem  primeiro,  crescimento  (desenvolvimento)  ou  sucesso  (dinheiro, 
fama, plateias)?
 

É  bom  para  o  jovem  ator  verbalizar  suas  necessidades  e  temores,  e  fazer  uma 
distinção  entre  a  ideia  que  as  pessoas  têm  de  sucesso  (estrelato  público)  e  a  
lenta maturidade de um grande intérprete que pode fazer escolhas mais desenvolvidas. Além
disso, o jovem ator precisa ter uma forte consciência de si mesmo e deve ser capaz de
rapidamente listar seus aspectos positivos e deficiências. (...)

 (...) O jovem ator tem que lembrar que seu alcance emocional deve ser estendido 

ao máximo. Não se pode ocultar alguma coisa e ser um ator. Tudo isso começa com o
autoconhecimento.
 

O ator tem somente seu próprio corpo como instrumento. Assim, tome nota do 
que  precisa  ser  estabelecido.  Como  ator,  ele  deve  trabalhar  continuamente  com:  
seu corpo, sua fala e sua mente. (...)

 Dando início à técnica

 (...) O objetivo máximo desta técnica é criar um ator que possa ser responsável 

por seu desenvolvimento e realização artísticos.

- Energia  


Encontre a energia de que você necessita para seu trabalho. (...) 

Comece com uma energia vocal forte; depois você pode modificá-la. O volume 
cai, mas a energia fica de pé.
 

O  ato  de  ler  ou  falar  vem  das  palavras  na  página.  O  entendimento  dessas 
palavras pelo ator deve ser claro e profundo.

 - Alcançando a plateia

 Num  palco,  embora  você  possa  estar  falando  intimamente  com  um  parceiro,  a 

plateia deve ouvi-lo também. Dessa maneira, você não pode usar o tom reservado que
utilizaria  na  vida  diária.  Você  deve  atingir  ser  parceiro,  você  deve  alcançar  a  

plateia.
Nunca se comunique de uma forma sem vida. Sua réplica deve ser articulada e pessoal.
Os  jovens  atores  de  hoje  se  expressam  mal.  Você  deve  ter  a  facilidade  de  

exprimir  a linguagem.
 

Comece por ter a consciência de que todos devem ouvi-lo. Você deve alcançar 
fisicamente  a  outra  pessoa.  Uma  vez  que  você  se  ouça  projetando  e  sinta  a  
profunda ressonância vindo dentro de sua voz, terá encontrado o tom normal para adotar no palco.
(...) 


- Tensão

 A  tensão  é  uma  das  inimigas  absolutas  da  atuação.  Você  não  se  mostra  tenso 
quando está no palco. A tensão é em grande parte resultado de recorrer às palavras do
texto  e  depender  delas,  

esquecendo-se  de  que  o  lugar  e  a  ação,  mais  que  as  palavras,
constituem o fulcro da peça. (...)

O mais importante para um ator é perceber sua própria verdade. (...)

- Controles físicos

 (...)  Como  um  ator  é  chamado  a  interpretar  muitos  tipos  diferentes  de  pessoas, 

você deve aprender a controlar seu corpo de modo a que possa executar movimentos a
que  não  esteja  habituado  e  desenvolver  maneiras  diferentes  de  andar  que  

combinem com  o  personagem  que  está  interpretando.  A  técnica  para  fazer  isso  é  estabelecer
alguma alteração física em seu corpo – um joelho rígido, por exemplo, ou uma corcunda
– e localizá-la, bem como os músculos que a sustentam e controlam.

- Domínio da fala

 Comparável aos controles para o corpo é o domínio da fala. 


Cicios
 
Para  causar  a  impressão  de  cicio,  ponha  a  língua  atrás  dos  dentes  e  fale  a 
seguinte sentença: “Era uma moça muito sedutora e chamou a atenção dos passantes ao
parar e olhar a vitrine da loja.”

- Memória muscular

No momento em que puder usar as mãos e lidar com adereços imaginários, você 
estará  no  comando  de  um  outro  princípio  no  seu  trabalho:  o  princípio  da  
verdade  no palco. Você terá aprendido a verdade sensorial da memória muscular.
 

Cada adereço tem sua própria presença e verdade. (...) 

A verdade que você cria no palco ao enfiar uma  linha na agulha e costurar, ou 
limpar seus óculos e colocá-los, não é gerada para que a platéia acredite em você, mas a
fim  de  que  você  acredite  em  si  próprio.  A  atuação  teatral  ocorre  quando  você  

mesmo está convencido da verdade do que está fazendo. Esta é uma das essências do realismo,
e ela é a aperfeiçoada fazendo-as coisas muito costumeiras. (...)

Imaginação

 (...) Noventa e nova por cento do que você vê e usa no palco vêm da imaginação. 


Em  cena,  você  nunca  usará  seu  próprio  nome  e  personalidade,  nem  estará  em  
sua própria  casa.  Cada  pessoa  com  quem  fala  terá  sido  criada  pela  imaginação  do
dramaturgo.  Cada  circunstância  em  que  se  encontre  será  imaginária.  E,  desse  

modo, cada  palavra,  cada  ação,  deve  ter  origem  na  imaginação  do  ator.  Se  um  fato  não
conseguir  passar  por  sua  imaginação  de  ator,  ele  parecerá  falso.  Nas  aulas  de  

oficina, portanto, os exercícios mais importantes são aqueles que devem ser feitos com o uso da
imaginação.

(...)  A  imaginação  pode  despertar  o  ator  para  as  reações  imediatas.  Ele  poderá 

ver  rapidamente,  pensar  rapidamente  e  imaginar  rapidamente.  Em  exercícios  para
estimular  a  imaginação,  procuro  pelas  reações  instantâneas  dos  atores  e  quaisquer
objetos com que estiverem trabalhando. Para a imaginação vir depressa, tudo que o ator
precisa fazer é deixá-la acontecer. (...)

- Vendo e descrevendo

 (...)  Você  deve  gravar  vividamente  e  com  precisão  as  imagens,  antes  de  poder 

descrevê-las. Só então poderá transmiti-las e fazer seu parceiro ou a plateia sentir o que
você viu.
 

Mantenha  os  olhos  abertos  e  assimile  tudo  visualmente.  Ao  descrever  alguma 
coisa, você deve vê-la de fato. A diferença entre relatar e assimilar uma imagem e saber
transmiti-la é o que faz  de você um artista. Todos os dias você se alimenta das coisas
reais que estão a sua volta.
 

(...)  Os  atores  devem  exercitar  seu  poder  de  observação.  Você  deve  estar 
continuamente atento às mudanças em curso no seu mundo social. (...)

(...)  A  função  do  ator  é  desinventar  a  ficção.  Se  você  precisa  de  um  limoeiro, 

mas nunca viu um, terá que imaginar alguma espécie de limoeiro. Você o aceitara como
se o tivesse visto. Você o imaginou, portanto, ele existe. Qualquer coisa que passa pela
sua imaginação tem o direito de viver e tem sua própria verdade.

Circunstâncias

- A verdade do lugar

Na vida, todo ser humano sabe onde está. É um fato comprovado que todos estão em algum lugar. O lugar é chamado de “as circunstâncias dadas” da vida. (...)

Todas  as  pessoas  são  grandes  atores  porque  aceitam  exatamente  o  lugar  onde 

estão. Os atores, contudo, têm, muitas vezes, pavor do palco porque, em cena, sentem-se
abandonados  num  lugar  que  lhes  é  estranho.  De  repente,  estão  nas  circunstâncias  da
peça e isto é o que lhes é tão estranho. São deixados sem a segurança absoluta que um
lugar familiar lhes dá. Quando entram em cena, nada vêem. É como se fossem cegos. 


Afim  de  evitar  isso,  os  atores  devem  imediatamente  deixar  claras  para  si  mesmo
circunstâncias da peça que está se realizando no palco. 

Primeiramente  o  ator  deve  começar  a  reconhecer  os  objetos,  a  mobília  e  as 
características do cenário. Antes de partir para o texto, é imperativo que ele se locomova
fisicamente nas novas circunstâncias e use-as. (...)

(...)  As  palavras  não  fazem  a  peça.  Você  deve  entender  que  a  primeira  regra  é 

aceitar as circunstâncias que o dramaturgo lhe dá como a verdade. (...)

Observação: Fugir dos famosos ¨cacos¨. Se existe um autor para a obra, deixe-o fazê-lo. O ator interpreta o texto já pronto.

(...)  A  absorção  completa  do  ator  nas  circunstâncias  tem  um  outro  enorme 
benefício.  Se  você  prestar  atenção  às  circunstâncias,  não  tomará  conhecimento  da
plateia  e  não  se  preocupará  com  as  pessoas  que  lhe  assistem.  Se  você  as  ignora
completamente e apenas prestar atenção no que está fazendo, elas o amarão. (...)

Ações

- Emoção

Mente,  coração  e  alma  do  ator  estão  envolvidos  em  sua  profissão.  Algumas 

vezes a mente assume o comando. Outras vezes a alma está mais envolvida. Isto traz à
baila  a  questão  da  emoção.  O  ator  tem  numerosos  recursos  dentro  de  si  mesmo  para obter a emoção de que a peça ou o personagem necessita. Toda a emoção exigida dele
pode  ser  encontrada  através  da  sua  imaginação  dentro  das  circunstâncias.  


O  ator  deve entender  que  não  pode  existir  verdadeiramente,  exceto  dentro  das  circunstâncias  
da peça.
 
Se na peça o ator necessita de uma ação à qual não responde, pode voltar á sua 
própria  vida,  não  em  busca  de  emoção,  mas  de  uma  cão  similar.  Em  sua  própria
experiência  pessoal  você  teve  uma  ação  semelhante  á  qual  correspondeu  uma 

reação emocional.  Volte  à  ação  e  ás  circunstâncias  específicas  em  que  esteve  e  lembre-se  do que fez. Se você recordar o lugar, os sentimentos voltarão. (...)

Justificação

Antes  vem  a  ação,  depois  uma  razão  para  executá-la:  essa  razão  chama-se 

justificação.  Encontrar  razões  para  tudo  o  que  você  faz  no  palco  mantém  suas  
ações verdadeiras. A justificação, a parte criativa de seu trabalho, é o que o alimenta no teatro.
A  justificação  não  está  nas  falas;  está  em  você.  O  que  você  escolhe  como  sua 

justificação deve estimulá-lo. Como resultado desse estímulo você experimentará a ação
e  a  emoção.  Se  você  escolher  uma  justificação  e  não  sentir  nada,  terá  que  

selecionar alguma outra coisa que o desperte. Seu talento consiste em quão bem é capaz de optar
por sua justificação. Na sua escolha reside seu talento. (...)

Trabalhando no palco

- Adereços

Um ator deve usar sua imaginação, quando trabalha com adereços. Muitas vezes terá 

que representar  com um mínimo de acessórios. É uma contrariedade para o ator não
ter  um  adereço  com  o  qual  trabalhar,  mas  às  vezes  isso  pode  se  transformar  

numa vantagem. É preciso saber como é a vida de um adereço, antes de usá-lo. (...) 

Personagem

O  primeiro  e  mais  importante  método  de  abordagem  para  o  ator  é  ler  a  peça  e descobrir  o  que  o  dramaturgo  quer  dizer  ao  mundo.  O  ator  deve  descobrir  as  
ideias importantes que o autor revela através de seus personagens. O dramaturgo quer divulgar
e  expressar  sua  opinião  sobre  a  sociedade.  

Embora  uma  peça  possa  ocorrer  em  local particular, está disposta a alcançar o mundo através de suas ideias. (...)

Atuar  se  baseia,  em  grande  parte,  nas  diferenças  entre  os  personagens.  

Um desenhista  italiano, um  camponês  russo,  um  diplomata  chinês,  todos no conhecimento  da
plateia  e  não  se  preocupará  com  as  pessoas  que  lhe  assistem.  Se  você  as  ignora
completamente e apenas prestar atenção no que está fazendo, elas o amarão. (...)

Os atores não devem apenas criar essas características nacionais e ocupacionais, mas  

devem  também  mostrar  as  diferenças  entre  os  personagens.  Atuar  é  agrupar
comportamentos  humanos  de  maneiras  originais  e  interessantes.  Mesmo  um
personagem  arquétipo  como  Hamlet  pode  ser  retratado  segundo  várias  

interpretações diferentes. (...)

A primeira aproximação do ator com o autor

- Parafraseando

O  ato  de  ler  ou  falar  surge  das  palavras  do  texto.  Durante  o  ensaio, 

o entendimento que o ator retira dessas palavras deve ser claro.
 

Parafrasear o texto da peça é uma parte essencial da técnica do ator. Parafrasear é tomar as ideias do 
autor e colocá-las nas palavras do ator, e desse modo fazer com que elas pertençam. Parafrasear o encoraja a usar sua mente e sua voz e lhe dá algum poder
que se iguala ao poder do autor. Simplesmente ouvir o som de sua própria voz pode ser
útil. Primeiramente, a plateia deve crer em você para que possa acreditar no autor.


Esta é sua primeira  experiência  e  a primeira aproximação do ator  com o  autor.
Quando for parafrasear, tome sempre as ideias que têm mais importância. 

Seria útil  ler  ensaios,  discursos,  artigos  de  jornal  e  editoriais,  traçando  ideias  a  partir  deles.
Para  isso,  você  deve  a  princípio  pôr  o  texto  em  suas  próprias  palavras.  
Então  retire  a pontuação.  
Quando  você  entender  o  texto,  a  pontuação  cairá  naturalmente  onde  for
necessária.


Trabalhando no texto

- A técnica de ensaio

 Stanislavski dizia que você pode ensaiar uma peça por seis horas ou seis meses. Um 

ensaio  é  muito diferente,  em  seu  resultado,  de  outro,  mas  ambos  podem  ser
igualmente  válidos.  Cedo,  em  seu  treinamento,  você  precisa  entender  o  processo  de ensaio.  


Se  você  está  fazendo  um  simples  exercício  de  sala  de  aula  ou  ensaiando  uma peça  inteira,  os  princípios  de  ensaio  são  os  mesmos.  Não  se  espera  uma  entrega
completa do ator toda vez que ele se prepara para trabalhar. (...) 

Etapa 1: Ingressando no significado

Seja para o exercício ou para a peça, existem três estágios de ensaio. 
A  noção  do  processo  de  ensaio  é  que,  em  primeiro  lugar,  o  ator  deve  decorar 
suas falas. Este é um conceito mortal. Na prática isto vem quase por último. A primeira
etapa  do  ensaio  é  estudar  o  texto  sem  memorização,  para  lentamente  ingressar  

no significado da peça e no que o autor quer dizer sobre o Homem e o mundo.
Quando você começa a trabalhar num texto, tem que estar aberto a impressões.

Etapa 2: Compreendendo o assunto

Tão  logo  você  possa  compreender  o  assunto  e  as  palavras  do  texto,  estará  na 

segunda  etapa  do  ensaio.  

Especialmente  neste  estágio  você  deve  guardar-se  contra  a tentação de decorar, visto que a memorização bloqueia o real entendimento. Conforme o
texto se torna mais familiar e o despertar para o estilo, ideias e intenção do dramaturgo,
as palavras vão lhe pertencendo gradualmente.
 
Recorra  ao  uso  de  um  dicionário  ou  uma  enciclopédia  se  tiver  dificuldade  em 
compreender algumas palavras. (...)

Etapa 3: Compreendendo a peça
 

Quando  você  estiver  confiante  na  interpretação  de  seu  papel  e  certo  de  que  foi 
útil ao autor, dando vida a seu texto, então terá dado sua contribuição para a peça. (...)

A contribuição do ator

O teatro tem em si o elemento da surpresa. Há uma plateia aguardando no escuro 

pelo subir do pano. O  ator tem então a  chance,  através do uso de seu talento e de sua
técnica, de manter sua plateia fascinada.
 

O  objetivo  da  técnica  que  ora  enfatizamos  é  afastar  o  ator  daquelas  
técnicas antiquadas ou que foram usadas com abuso em nome de Stanislavski.
 

O texto do autor é o único ponto concebível do qual o ator pode partir. 
Ele deve se aproximar do texto sem preconceitos ou opiniões preconcebidas. O estudo do texto
deve proceder-se desta forma: 


1.     O  ator  deve  perder  sua  dependência  das  palavras  e  partir  para  as  ações  
da peça. 

2.  Primeiro vêm as ações, depois as palavras. As palavras resultam da ação. (...)

 

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